01.08.2024

À conversa com o Engº Carlos Matos de Pinho

01.08.2024

À conversa com o Engº Carlos Matos de Pinho

'A variedade dos trabalhos [permitem] ter uma abrangência de conhecimento e experiência muito relevantes. (…) A diversidade de temas é-me motivante porque a curiosidade e os desafios constantes mantêm-nos ativos, despertando sempre a necessidade de aprendizagem'

Por forma a conhecê-lo melhor, fale-nos do início do seu percurso profissional.

Completei a minha formação académica na FEUP em 1985, período em que a crise económica era aguda. Ingressei em 1987 na Engil SA, tendo iniciado a minha atividade profissional na produção, na A3 AE Porto-Valença. Esta primeira fase da carreira permitiu-me passar por uma variedade de projetos como infraestruturas rodoviárias e ferroviárias, construção civil e hospitais. Os projetos mais desafiantes foram a A1 Pombal-Condeixa, pela simbologia da ansiada conclusão da autoestrada Porto-Lisboa (para onde a BETAR projetou 17 passagens superiores); o Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos (num período em que ingressei na OPCA – Obras Públicas e Cimento Armado), pela sua dimensão, complexidade e porque, por ser um projeto de conceção-construção, implicava uma intervenção muito incisiva das soluções; e o viaduto do Ínsuas, de regresso à A3, obra desafiante pela inovação em Portugal da metodologia construtiva de pontes, avanço incremental.

Em 1997 abracei o projeto da Herso SA, empresa de trabalhos ferroviários na Argentina, adquirida pela Engil SA, onde tomei contacto com a reabilitação ferroviária. Depois, durante cerca de 12 anos, intervim no programa de Concessões Rodoviárias, em várias posições e tipos de responsabilidades. Na altura, a Mota e Companhia SA e a Engil – Sociedade de Construção Civil SA (depois fundidas em Mota-Engil SA) lideravam um grupo de 11 empresas portuguesas de construção. Participei ativamente no desenvolvimento da estrutura do ACE’s Construtor da Concessão Norte, posteriormente replicada nas sucessivas Concessões a cargo do grupo, como Costa da Prata, IP5, Grande Porto, Grande Lisboa, Douro Interior e Pinhal Interior. Foi um período de grande intensidade e variedade de trabalhos, que me permitiu ter uma abrangência de conhecimento e experiência muito relevantes. Estes anos foram vividos em contacto com Paulo Gomes, atual sócio de BETAR (que saúdo ter agora ter reencontrado).

Importa marcar que a diversidade de temas é-me motivante porque a curiosidade e os desafios constantes mantêm-nos ativos, despertando sempre a necessidade de aprendizagem.

Atualmente é responsável pela área de Controlo de Projetos da Mota-Engil Perú. Como chegou à América do Sul?

A internacionalização da minha carreira retomou-se no Malawi, no projeto do Corredor de Nacala – lote 3, construção de raiz (green field) de 136km de linha ferroviária, então o maior contrato da história da Mota-Engil, onde permaneci deste a primeira pedra da obra, com a responsabilidade de coordenação do projeto e controlo de qualidade, até à entrega definitiva. Em paralelo, assumi outros projetos no mercado, entre eles a reabilitação de linhas ferroviárias existentes, quase centenárias. Nesses trabalhos desafiantes, a BETAR fez o levantamento do estado das estruturas, para avaliação das condições das pontes integrantes do traçado e definição de soluções, que terminou com a construção da nova ponte sobre o rio Shire. O meu percurso prosseguiu por África (Tanzânia, Angola e Moçambique), e América Latina (Perú e Uruguai), respetivamente nos portos de Callao e Montevideo, com responsabilidades na coordenação de projeto.

Em 2018 foi determinada a implementação do Last Planner System nos vários mercados do universo Mota-Engil. A minha primeira abordagem ocorreu no projeto da via-férrea na Tanzânia (DSMSG), tendo seguido na implementação da metodologia em projetos específicos na Colômbia, Angola e Moçambique. Considerando os benefícios que o processo tem na organização das estruturas dos projetos, melhorando a eficiência, atualmente estou focado na implementação da metodologia nas obras de construção do mercado do Perú, ao que acresce a análise e monitorização de risco. Temos em conta a perceção das necessidades de adaptação às características de cada projeto, existindo uma análise de desempenho para a melhoria continua dos processos.

Atualmente, estamos a preparar a proposta para a Concessão Ferroviária Huancayo Huancavelica. No âmbito da transversalidade que tem de existir na nossa atividade, pela experiência tida no Malawi e pela similitude da situação da reabilitação de pontes do troço Nkaya-Limbe, foi decidido contactar a BETAR para a reabilitação da via-férrea, que tem uma extensão de 128km e integra 15 pontes a intervir, entre outras estruturas.

Quais as suas perspetivas para o futuro?

Neste momento estou empenhado em prosseguir com o desenvolvimento dos dois principais pontos que me mobilizam, e que, pela recetividade manifestada, darão certamente frutos que serão colhidos, não de uma forma evidente, mas integrada nos resultados. Pessoalmente, tenho disponibilidade para me manter fora de Portugal, enquanto se justificar a minha permanência, no caso no Perú, país que me acolheu muitíssimo bem e onde gosto de estar. A presença nos projetos permite-me conhecer o país de ponta a ponta, experiência que me enriquece muito, dado ser um país culturalmente rico, com história, tradições muito interessantes e, muito importante, com habitantes de excecional simpatia e cordialidade.

Esta entrevista é parte integrante da Revista Artes & Letras #167, de agosto de 2024

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