01.07.2021

À conversa com Eng.º José Manuel Faísca

01.07.2021

À conversa com Eng.º José Manuel Faísca

'Cimentado o investimento na eletrificação da infraestrutura ferroviária, torna-se importante acelerar a mobilidade elétrica no País […] Cabe à IP o papel dinamizador de políticas amigas do ambiente'

Fale-nos um pouco do seu percurso e funções atuais.

O meu percurso começou pela paixão pelos comboios dado que sou oriundo de uma família de ferroviários, porém, observar o edificado associado aos caminhos de ferro, foi o rastilho para uma paixão pela Arquitetura. No entanto, a minha passagem pelo mundo das corridas de automóveis aproximou-me do asfalto e da engenharia. Assim, entre corridas e viagens, conclui o curso de engenharia civil no IST. No final do curso, decidi ingressar na Engivia, onde adquiri o conhecimento do universo inerente ao projeto rodoviário e aprofundei os meus conhecimentos na área de Engenharia e Ambiente, cujo responsável foi determinante para o meu futuro profissional, o Engenheiro Quinhones Levy. Após a criação da IP – Infraestruturas de Portugal, em 2015, foi me lançado o repto de desempenhar as funções de Diretor da Direção de Empreendimentos Rodoviários da IP e em acumulação de Gestor da Área Rodoviária da IP-Engenharia. Fui então confrontado com um dos maiores desafios da minha carreira, o empreendimento do Túnel do Marão, onde trabalhei com uma equipa de grandes profissionais. Em 2016, a IP procedeu à criação da Direção de Empreendimentos (rodoferroviários) e da Direção de Engenharia e Ambiente, da qual fui nomeado diretor. Já em 2020, devido aos gigantescos desafios que se avizinham, a Administração nomeou um segundo diretor com vasta experiência. A coabitação entre dois diretores na mesma Direção só é possível graças à simbiose e cumplicidade existente entre mim e o meu “parceiro”, o Eng. José Alves Monteiro. Para além da corresponsabilização e tomada de decisões ser efetuada em conjunto, a gestão das equipas e projetos foi dividida em estudos ferroviários e rodoviários, sendo que a área de ambiente ficou sob minha responsabilidade. A Direção de Engenharia e Ambiente assume o papel de “engenharia” e de “Gestor do Projeto” do Grupo: responsabiliza-se pela execução de estudos e projetos e presta serviços de engenharia em projetos multidisciplinares rodoferroviários, seja de construção, requalificação e manutenção, com o objetivo de fornecer soluções de mobilidade.

Como é que a BETAR tem contribuído para o desenvolvimento dos vossos projetos?

A BETAR sempre foi um parceiro das organizações que estiveram na origem da IP, com destaque para o envolvimento em projetos de obras de arte, inspeção de estruturas especiais e serviços conexos. Porém, o seu contributo estendeu-se muitas das vezes a parcerias com empresas ditas de consultoria em matéria de vias, assumindo a responsabilidade pelo desenvolvimento das estruturas especiais, correntes, de suporte e/ou contenção. Recentemente, temos observado o reforço de meios por parte da empresa, o que resulta na disponibilidade de assumir o desenvolvimento de projetos na maioria das especialidades que integram um empreendimento, libertando-se de certa forma da denominação de “Projetista de Pontes”. A colaboração com os parceiros é determinante para a concretização dos objetivos, sendo um processo win to win. Reveste-se de particular importância o respeito, a transparência e a corresponsabilização entre as partes. Os desafios e dificuldades só serão ultrapassados se existir colaboração e partilha de conhecimento, pois o sucesso da IP é indissociável do sucesso das empresas com quem estabelecemos as parcerias e vice-versa.

Como é que a IP conduz a sua atividade de forma sustentável? E quais as orientações estratégicas para o futuro?

A missão da empresa e nomeadamente da estrutura de Ambiente e Sustentabilidade é a de garantir o cumprimento dos requisitos regulamentares e promover uma cultura corporativa consistente com a responsabilidade ambiental, potenciar a eficiência da utilização de recursos e a inovação e melhoria dos serviços com impacto no desempenho ambiental. Cimentado o investimento na eletrificação da infraestrutura ferroviária, torna-se importante acelerar a mobilidade elétrica no País, através da utilização de veículos de zero emissões. Sendo a IP o maior gestor de infraestruturas, cabe-lhe o papel dinamizador de políticas amigas do ambiente, tornando a sua rede permeável e passível de ser aproveitada pelos serviços que contribuam para a uma política de descarbonização. A IP tem subjacente, na sua atuação, o Plano de Ação para a Economia Circular que assenta na Prevenção, Redução, Reutilização, Recuperação e Reciclagem de Materiais e Energia. Esta abordagem substitui o conceito de “fim de vida” da economia linear por novos fluxos circulares. A Direção de Engenharia e Ambiente tem ainda por missão contribuir para a melhoria de hábitos dos seus colaboradores e clientes. Temos também que acabar com a concorrência entre a Ferrovia e Rodovia assumindo a sua complementaridade. A estratégia terá que passar por estimular formas sustentáveis de mobilidade, incluindo a adoção de medidas de limitação e controlo de capacidade rodoviária, promover a manutenção e criação de corredores pedonais e cicláveis e a materialização de zonas verdes e de lazer. O Programa FERROVIA2020 deverá ser complementado com a melhoria das acessibilidades àquela infraestrutura, com a criação de terminais rodoferroviários, parques logísticos e de estacionamento, em estreita articulação com a reforma dos serviços de transportes públicos.

Esta entrevista é parte integrante da Revista Artes & Letras #132, de Julho-Agosto de 2021

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