Betar

Para começar, falem-nos um pouco de quando começaram a olhar o espaço com olhos de futuras arquitetas. Porquê arquitetura?

As linhas, as formas, os volumes, alinhados com as cores e os materiais e a funcionalidade dos edifícios sempre nos cativaram. Ao crescer, percebemos que a arquitetura não era apenas sobre construir cidades e espaços, mas sobre criar experiências e ambientes através da proporção, e isso molda a vida das pessoas.
Escolhemos a arquitetura porque nos dá a oportunidade de unir arte e técnica, e desenhar a realidade através do traço e da linha imaginada. A possibilidade de transformar ideias abstratas em espaços concretos, que podem influenciar positivamente a sociedade, inspira-nos a pensar melhor. A arquitetura permite-nos criar ambientes onde as pessoas vivem, trabalham e interagem, melhorando a qualidade de vida e proporcionando bem-estar. Ver como os projetos impactam positivamente a experiência humana e o quotidiano das pessoas é extremamente gratificante e motiva-nos a inovar e a criar. A arquitetura permite-nos deixar uma marca duradoura na vida das pessoas, e isso é o que nos entusiasma.

Cruzaram-se no atelier de Miguel Câncio Martins. Foi aí que se conheceram? Como foi essa escola?

Já tínhamos uma relação pessoal, mas foi na MCM Design que tivemos a nossa primeira experiência profissional em conjunto. Foi para ambas uma experiência muito gratificante e enriquecedora, pois conseguimos aumentar a diversidade dos tipos de projetos, como hotelaria, restauração e a habitação unifamiliar. Desenvolvemos a capacidade de pensar em diferentes escalas, diversos pontos de vista, mantendo sempre a atenção aos detalhes. A possibilidade de acompanhar o desenvolvimento dos projetos até à sua concretização, deu-nos o conhecimento e capacidade para explorarmos agora a nossa própria sensibilidade. Foi também na MCM que tivemos a oportunidade de trabalhar com a BETAR, com a qual gostávamos muito da experiência e colaboração.

Em 2023 fundaram o POENTE ATELIER juntando as duas valências em que mais se destacam, Arquitetura e Design de Interiores. Como surgiu a ideia de se lançarem num projeto em conjunto?

Voltámos a trabalhar em conjunto quando participámos no concurso do Hotel Alma Lusa Comporta, o qual acabámos por vencer, ficando responsáveis pela execução integral do projeto, desde o Licenciamento à entrega do Interior Design, passando pela reabilitação total do edifício. Este projeto consolidou a nossa capacidade de trabalho em conjunto e a vontade de assumir um projeto próprio. No nosso pronto de vista, a conjugação das duas áreas faz sentido ser pensada como um todo, onde começamos com a Arquitetura e terminamos no Design Interiores. O nosso atelier apresenta uma solução de projeto completa, passando pelas diferentes escalas, deste da volumetria e fachada, até ao candeeiro de leitura. Tornando o projeto como um objeto único de estudo que adota a mesma linha conceptual condutora do início ao fim do processo.

Quais são os princípios que norteiam o vosso trabalho atualmente? Como é que chegam ao essencial? Como olham para o futuro do atelier, que planos têm em mente?

A nossa abordagem à Arquitetura e ao Design de Interiores vai muito além da mera criação de espaços físicos, é uma busca incessante pela harmonia entre forma, função e significado. Cada projeto começa assim com uma análise profunda das necessidades e aspirações do cliente, seguida por uma meticulosa exploração conceptual e técnica que leva ao conceito final.
Combinamos o conhecimento entre o Design de Interiores e a Arquitetura, sempre com o objetivo de transcender os limites convencionais, para criarmos ambientes funcionais que não apenas acomodem, mas também inspirem e elevem a experiência humana.
No Poente Atelier queremos ser uma One Stop Shop, que assegura todas as fases do projeto, conceção, desenvolvimento e execução de Arquitetura e Design de Interiores. Temos a ambição de diversificar os vários tipos de projetos e experiências, deixando o nosso cunho nas mais variadas áreas.

Qual consideram que deve ser o papel da Arquitetura em relação aos grandes desafios das alterações climáticas, a nível global?

Acreditamos que a arquitetura é uma área fundamental no desafio das alterações climáticas pois representa um objeto duradouro, uma vez construído. A arquitetura necessita de uma constante modernização e de uma integração no tema da sustentabilidade de uma forma coesa, uma vez que pode e deve assumir-se como um dos motores para promoção de uma utilização racional dos recursos naturais existentes. Pensar e desenhar o amanhã para as gerações futuras transforma-se assim numa responsabilidade civil própria da Arquitetura.

Esta entrevista é parte integrante da Revista Artes & Letras #168, de setembro de 2024